sábado, 28 de janeiro de 2017

Porque Esdras 7-10?

 Achei oportuno como minha primeira publicação do site, dar um esclarecimento do nome de Esdras 7-10. Desde já deixo claro que a intenção deste modesto autor não é fazer alarde perante o vergonhoso evangelicalismo moderno, até porque o referido autor se encontra entre os "teólogos" anônimos que estão espalhados pelo mundo. Digo teólogo, não no sentido docente da palavra mas no sentido discente, ou seja, ainda me encontro entre os alunos sentados em uma carteira, olhando para a lousa rabiscada, onde vez após vez passa-se por professores diferentes, tais como Lutero, Calvino, Agostinho, Owen, Baxter, Edwards, Lloyd-Jones, Packer, Tozer, Pink, Sproul, etc... Homens diversos, patriarcas, reformadores, puritanos, pastores, e acima de tudo servos, não da teologia, mas do Deus da teologia. Servos da verdade em meio a mentira de um coração enganoso que é imperativo do ser humano. "Seja Deus verdadeiro, e mentiroso, todo homem" (Rm 3.4). Fazemos teologia com a intenção de declarar guerra a esse cruel imperador inato ao homem.

Porém, o autor deste blog concorda com as palavras de Alister McGrath:
"De certa forma, todos somos teólogos, na medida em (que) todos queremos falar de Deus. Só que não é tão simples assim". (Teologia para amadores, p.7)
 Acredito que o fator principal da atual vergonha evangélica protestante é a teologia fraca e (contrariando a própria etimologia da palavra) antropológica como fundamento na maioria das denominações. Pregadores, pastores, evangelistas, a semelhança dos sacerdotes de um Israel ainda monárquico, desprezam o verdadeiro conhecimento de Deus. Cabe aqui as palavras de Deus proferida pelo profeta Isaías acerca de Judá e Jerusalém (v.1):
"Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque o SENHOR é quem fala: Criei filhos e os engrandeci, mas eles estão revoltados contra mim. O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende." (Is 1.2,3)
Oséias, contemporâneo de Isaías, adverte Israel, o reino do norte do mesmo pecado, a falta de conhecimento:
"Ouvi a palavra do SENHOR, vós, filhos de Israel, porque o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra, porque nela não há verdade, nem amor, nem conhecimento de Deus... Todavia ninguém contenda, ninguém repreenda; porque o teu povo é como os sacerdotes aos quais acusa...O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos." (Os 4.1,4,6)
Oséias expõe o pecado de Israel dizendo "não há verdade, nem amor" e isso porque não há conhecimento de Deus, a fonte de toda verdade e do mais puro amor. Mas a causa matriz da ignorância do povo, Oséias diz, é "porque o teu povo é como os sacerdotes" e visto que os sacerdotes rejeitaram o conhecimento de Deus, isso reflete no povo ao qual servem. Um é o espelho, o outro o simples reflexo. A negligencia de um resulta na ignorância do outro. Infelizmente muitos em nossos dias acreditam firmemente exercerem a função de sacerdote sobre o povo de Deus, mas que a resposta de Deus diante de alguns é "rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdotes diante de mim". Olhe por exemplo para o primeiro século. Quantos fariseus, quantos saduceus, escribas e mestres da lei, tão numerosos e mesmo assim Jesus olha para a multidão "como ovelhas que não tem pastor" (Mc 6.34); tantos deles, porem todos rejeitados porque negligenciaram o verdadeiro conhecimento. Seria diferente nos dias atuais?

Agora veja o contraste com um peregrino, vindo do exílio na Babilônia para Jerusalém:
Passadas estas coisas no reinado de Artaxerxes rei da Pérsia, Esdras, filho de Seraías, ...filho de Fineias, filho de Eleazar, filho de Arão, o sumo sacerdote, este Esdras subiu da Babilônia. Ele era escriba versado na Lei de Moisés, dada pelo SENHOR, Deus de Israel; e, segundo a boa mão do SENHOR, seu Deus, que estava sobre ele, o rei lhe concedeu tudo quanto lhe pedira... Porque Esdras tinha disposto o coração para buscar a Lei do SENHOR, e para a cumprir, e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos." (Ed 7.1,5-6,10)
Já se passara por um período de aproximadamente meio século desde que a primeira caravana viera para reconstruir o templo com Zorobabel. O contexto posterior a esta passagem nos revela que depressa o povo se corrompeu com os habitantes da terra, "o povo de Israel, e os sacerdotes, e os levitas não se separaram dos povos de outras terras com as suas abominações... se misturou a linhagem santa com os povos dessas terras" (9.1,2), uma reverberação de Gênesis 6 e do período anterior ao exílio de Israel e Judá, o contexto de Isaías e Oséias. Em ambas o resultado foi o juízo de Deus, a manifestação da sua ira santa e o cumprimento de sua palavra (Dt 7.1-4). Israel está novamente a passos largos rumo a destruição.

O templo já estava reerguido, Jerusalém se tornara novamente capital, e Israel podia se orgulhar de seu ressurgimento (nós sabemos o motivo desse ressurgimento, Is 44.21-28, Ed 1.1-4). Porém o povo ainda se encontra em trevas, ou seja, o coração do ser humano não mudou sequer um milimetro, seja para esquerda ou para direita, desde aquele dia sombrio no Éden (Gn 3). Mas a esperança se encontra no texto que estamos analisando, e eu queria destacar três pontos principais dele. Primeiro, os primeiros versos quer deixar bem claro quem subiu da Babilônia; "filho de Arão, o sumo sacerdote, este Esdras subiu da Babilônia". Esdras tinha pela sua linhagem genealógica o direito do sacerdócio santo entre o povo de Israel. Se compararmos passagens como 6.20 com 9.1, veremos que houve uma corrupção entre o sacerdócio no período de tempo entre a páscoa celebrada no capitulo seis e a chegada de Esdras no sete. Veja por você mesmo:
"porque os sacerdotes e os levitas se tinham purificado como se fossem um só homem, e todos estavam limpos... Assim, comeram a Páscoa os filhos de Israel que tinham voltado do exílio e todos os que, unindo-se a eles, se haviam separado da imundícia dos gentios da terra, para buscarem o SENHOR, Deus de Israel" (Ed 6.20,21)
A cena alguns anos depois é outra:
"O povo de Israel, e os sacerdotes, e os levitas não se separaram dos povos de outras terras com as suas abominações... assim, se misturou a linhagem santa com os povos dessas terras." (Ed 9.1,2) 
Segundo, ele não era apenas um sacerdote, mas o texto deixa claro que, diferente dos seus contemporâneos e dos sacerdotes do tempo de Isaías e Oséias, Esdras não foi rejeitado por Deus: "Ele era escriba versado na Lei de Moisés, dada pelo SENHOR, Deus de Israel; e segundo a boa mão do SENHOR, seu Deus, que estava sobre ele, o rei lhe concedeu tudo quanto lhe pedira". Certamente o ser versado na Lei de Moisés, implica que Esdras não rejeitou o conhecimento de Deus. Isso fica mais claro quando vemos a oração de confissão dele ao saber das noticias do povo e dos sacerdotes no capitulo nove. Ele tem conhecimento de um Deus santo que não suporta o pecado e a iniquidade (9.6); um Deus que exerce juízo sobre o pecado (v.7); mas ao mesmo tempo um Deus gracioso com o seu povo dando vida em meio a servidão (v.8); um Deus também de misericórdia para restaurar o povo e diminuir o castigo em sua vara de justiça (v.9, 13); e um Deus que é fiel a sua palavra, mesmo que isso implique em disciplina ao seu povo (v.11-12). Por não rejeitar o verdadeiro conhecimento, Deus não o rejeita como sacerdote.

Terceiro, ele havia "disposto o coração" para buscar, cumprir e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos. Deve-se lembrar que a palavra coração na cultura judaica implica em todo o ser do homem, sua mente, vontade, alma, raciocínio, inteligencia, seu corpo, tudo o que lhe compõe. Conhecê-lo de todo coração é ama-lo com todas as forças e entendimento. É nesse ponto que Esdras entra no mesmo grupo de todos os reformadores, puritanos e afins. Diligência no estudo da palavra, preocupação em seu cumprimento e aplicação prática, e a grande obra de ensinar a Igreja por meio da pregação, pois é o que ele faz atê o final deste livro.

Parece-me o cumprimento das palavras de um velho pregador: "O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer, nada há, pois, novo debaixo do sol" (Ec 1.9). Aconteceu com Josias, aconteceu com Esdras, assim como com Lutero. E diante do crescente número de reformados em o nosso país, pergunto: estaria acontecendo de novo? Espero que sim!

Esdras 7-10 é a trajetória de mais um reformador nesta grande História da redenção, e a minha oração caro leitor é que possamos pela graça que há em Cristo Jesus, sermos participantes dela, atê que Ele volte.
"Tem havido dias gloriosos e grandiosos do Evangelho nesta terra, mas eles serão nada em comparação àquilo que haverá no futuro" (James Renwick, 1688)

A Graça e a Paz de Cristo sobre todos os que O amam.

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